As Fazendas que Viraram Sítios Arqueológicos: Pedra Branca e Pirahy na Região da Barragem do Ribeirão Piraí
A construção da Barragem do Ribeirão Piraí, que envolve áreas de Indaiatuba, Cabreúva, Itu e Salto, trouxe à tona não apenas questões ambientais e de abastecimento, mas também um tesouro de memória: a identificação de dois importantes sítios históricos arqueológicos. Trata-se da Fazenda Pedra Branca 01 e da Fazenda Pirahy, propriedades rurais que testemunham séculos de transformações na história paulista.
Essas descobertas foram possíveis graças às prospecções arqueológicas exigidas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), realizadas antes da execução das obras. Os trabalhos revelaram que, por baixo da terra e nas ruínas das antigas construções, ainda resistem marcas da vida cotidiana de fazendeiros, colonos, imigrantes e escravizados que habitaram a região.
Sítio Arqueológico Fazenda Pedra Branca 01
Localizada nas imediações do futuro reservatório, a Fazenda Pedra Branca 01 reúne uma série de estruturas típicas de grandes propriedades rurais do século XIX. Ali foram identificados vestígios de casa-sede, casas de colonos, capela, terreiro de café e canaletas de água.
Essas construções em alvenaria de tijolos mostram como as fazendas se organizavam em torno da produção agrícola, em especial o café, que marcou o apogeu econômico do interior paulista. Além das paredes ainda de pé, o solo guarda fragmentos de cerâmica, telhas, vidro, metais e até moedas — pequenos sinais de um passado que parecia esquecido.
Sítio Arqueológico Fazenda Pirahy
Outro ponto é o sítio Fazenda Pirahy, cujo conjunto arquitetônico já é tombado pelo CONDEPHAAT (órgão estadual de preservação). A área preserva a casa-sede, capela, depósitos e casas de colonos, revelando a mesma lógica de funcionamento das antigas fazendas de café.
Além das construções, arqueólogos identificaram vestígios em profundidade, como fragmentos cerâmicos, que ajudam a contar a história de quem viveu e trabalhou ali. Por trás das paredes de tijolos, existiu a dura realidade da mão de obra escravizada, seguida pela chegada dos imigrantes após a abolição, em 1888.
O que os achados revelam
As prospecções abriram centenas de poços de sondagem, dos quais 434 puderam ser analisados. Apesar da amostragem reduzida, ela foi suficiente para confirmar a existência dos dois sítios. Os materiais encontrados — pedaços de louça, cerâmica, metais, telhas e até cachimbos — dão pistas sobre o cotidiano dos moradores: suas práticas religiosas, hábitos alimentares e modos de vida.
Linha do tempo: da sesmaria à barragem
Período | O que acontecia na região | Relação com os sítios |
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Século XVIII | Distribuição de sesmarias; agricultura de subsistência. | Primeiras ocupações rurais. |
Início do século XIX | Expansão do açúcar e do café; uso de mão de obra escravizada. | Formação das casas-sede e capelas. |
1850–1880 | Apogeu do café. | Construção de estruturas em alvenaria e organização das fazendas. |
1888 em diante | Abolição da escravidão; chegada de imigrantes. | Casas de colonos passam a abrigar famílias de italianos e espanhóis. |
Início do século XX | Diversificação agrícola após o declínio do café. | Adaptação de estruturas; algumas caem em desuso. |
Século XXI | Projeto da Barragem do Ribeirão Piraí. | Descoberta e registro oficial dos sítios arqueológicos. |
Por que preservar?
A identificação da Fazenda Pedra Branca 01 e da Fazenda Pirahy mostra como o território de nossa cidade guarda camadas de memória que vão muito além do que se vê na superfície. Preservar esses sítios é preservar histórias de luta, trabalho e transformação que moldaram a região de Indaiatuba e arredores.
Mais do que ruínas, essas fazendas são testemunhas silenciosas de um Brasil rural construído sobre contradições: riqueza cafeeira e exploração da mão de obra escravizada; tradição religiosa e cotidiano árduo; prosperidade e abandono.
Hoje, diante do avanço das obras, cabe às pesquisas arqueológicas e aos programas de educação patrimonial garantir que esse passado não seja soterrado pela barragem, mas sim incorporado à memória coletiva.
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Com a identificação de mais esses dois sítios arqueológicos, agora Indaiatuba passa a ter cinco deles, entre os mais de 40 já mapeados na região. Leia mais sobre isso aqui.